Foto: Cláudia Lima da Costa \ TVI |
Os meios
informáticos do INEM estão a atrasar o socorro de doentes urgentes. A
TVI teve acesso a ordens escritas das médicas responsáveis pelas
centrais 112. Os documentos falam de «atrasos inexplicáveis» e mesmo do
risco de vítimas ficarem por atender e morrerem.
Por causa das dúvidas sobre o software, é preciso confirmar sempre por telefone os procedimentos, o que atrasa o socorro.
Ambulâncias,
carros médicos e helicópteros de emergência médica comunicam com as
centrais 112 do INEM através de computador. O equipamento, chamado
Mobile Clinic, devia permitir a transmissão rápida dos sintomas de risco
dos doentes e indicar aos meios de emergência a rota mais rápida para
chegar a ele, como um bom GPS. Mas está a acontecer o contrário. Os
computadores bloqueiam, demoram tempo a reiniciar e, pior ainda: muitas
vezes nem sequer recebem os alertas da central 112, induzindo em erro os
operadores telefónicos emergência, que julgam ter activado ambulâncias
que, afinal, não chegam a receber qualquer informação.
Uma Ordem de
Serviço, emitida pela médica Regina Pimentel, directora regional do
Centro do INEM, para os coordenadores e supervisores das centrais de
emergência, em 28 de Novembro, prova a existência de graves atrasos no
socorro por falha do equipamento Mobile Clinic:
«Meus caros:
sempre que se acciona um meio pelo mobile, está escrito que deve ser
confirmada a recepção do evento. Este procedimento não está a ser feito.
Podem dizer-me que há muito trabalho, mas haverá muito mais se o evento
não chegar onde deve, a ambulância não sair para o local, a vítima
morrer, irmos todos a tribunal ou sermos postos nos disponíveis ou na
rua com um processo. Todos sabem que o Mobile não está fiável ainda, os
fluxos vieram trazer celeridade ao envio de meios e nós não temos a
certeza que o meio foi! Não estamos afazer bem o nosso trabalho. Há
atrasos no socorro inexplicáveis. Isto não é um conselho, porque esse já
o dei há muito tempo. É UMA ORDEM E É PARA CUMPRIR a nível nacional».
A directora da
Central de Doentes Urgentes de Lisboa reencaminhou de imediato a ordem
de serviço para os operadores da maior central do país. Teresa Pinto,
médica, acrescentou apenas: «Repito - é MESMO para cumprir».
O Mobile Clinic
e o GPS Navigator foram adquiridos em 2007 e nos dois primeiros anos
custou um milhão e trezentos mil euros. Mas foi colocado na prateleira
precisamente devido à falta de qualidade. No relatório e contas de 2011,
a administração do INEM explica que o equipamento foi colocado em
testes mas que não era de todo fiável, tendo sido descontinuado.
No primeiro
semestre de 2011, contudo, o INEM decidiu colocar o equipamento em todas
as suas ambulâncias, carros médicos e helicópteros de emergência. O
presidente, que não acedeu a um pedido de entrevista da TVI, garantiu
então aos deputados que não tinham razões para se preocupar:
As ordens de
serviço emitidas há dois meses pelas médicas com maior responsabilidade
no INEM coincidem com a descrição feita à TVI por dezenas de
operacionais de meios de emergência. O equipamento atrasa o socorro e
ainda é encarado como um empecilho.
O pior é que o
INEM já antes da sua instalação tinha um mau desempenho, como descrito
pelo Tribunal de Contas numa auditoria de Dezembro de 2010:
«Nas chamadas
de emergência associadas a risco imediato de vida, a capacidade de
resposta dos meios do INEM é manifestamente insuficiente, quando
comparada com os standards internacionais», lê-se.
Os juízes
explicavam que no socorro a doentes em risco de vida, com acidentes
vasculares cerebrais, ataques cardíacos, dor e doença coronária súbita,
em paragem ou com dificuldades respiratórias severas, ou com
traumatismos graves, como as vítimas de acidentes, os padrões
internacionais estabelecem em oito minutos para os meios de socorro
chegarem a eles, ora em Portugal, o INEM só consegue fazê-lo em 20 por
cento dos casos, apenas um em cada cinco doentes, contra 68 a 78 por
cento dos ingleses.
Artigo: Carlos Enes
Fonte: TVI
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