Olá a todos

Este blog possui gestão privada, não tendo qualquer ligação oficiosa à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Pouca de Aguiar. Todos os textos colocados são da responsabilidade dos seus autores. Todos os comentários feitos, são da responsabilidade de quem os escreve. Faça bom uso deste meio, os colaboradores agradecem.

21 de maio de 2010

O desejo de um bombeiro

  Desejava que pudesses ver a tristeza de um homem de negócios quando o trabalho da sua vida desaparece em chamas ou uma família que regressa a casa e apenas encontrar a sua casa e os seus pertences danificados ou destruídos.


 Desejava que pudesses saber o que é procurar num quarto a arder por crianças presas... As chamas por cima da tua cabeça, as palmas das mãos e os joelhos a queimarem enquanto tu rastejas... O chão a ranger com o teu peso, enquanto a cozinha arde por baixo de ti.


 Desejava que pudesses compreender o horror de uma esposa quando às 3 da manhã verifica que o marido não tem pulso... Inicio o S.B.V. (suporte básico de vida) no mesmo, esperando uma hipótese muito remota de trazê-lo de volta... Sabendo instintivamente que é tarde demais...
Mas querendo que a família soubesse que tudo o que era possível foi feito.


 Desejava que pudesses saber o cheiro único de uma queimadura, o gosto da saliva com sabor a fuligem... sentir o intenso calor que passa através do equipamento, o som dos estalos das chamas, a sensação de não conseguir ver absolutamente nada através do fumo denso... Sensações que se tornaram muito familiares para mim...


 Desejava que pudesses compreender como nos sentimos ao ir para o trabalho de manhã após passarmos a maior parte da noite suando com o calor de diversas chamadas de fogo...


 Desejava que pudesses ler o meu pensamento quando respondo a uma chamada para um edifício a arder, 'Será falso alarme ou um enorme incêndio? Como será a construção do edifício? Que perigos esperam por mim? Estará alguém lá dentro ou saíram todos?'
'Ou para uma chamada de socorro. 'o que se passará com o doente? Será que a pessoa que telefonou está mesmo em apuros ou estará à minha espera com uma arma?'.


 Desejava que pudesses estar na sala de reanimação quando o médico decide anunciar a morte da linda menina de cinco anos que tenho tentado salvar durante os 25 minutos anteriores, e que nunca irá ter o seu primeiro namorado, nem nunca mais irá dizer 'gosto muito de ti, mãe' ...


 Desejava que pudesses saber a frustração que sinto na cabina do autotanque, o motorista com o acelerador a fundo, o meu braço a tocar a sirene vezes sem conta quando não se consegue passar por um cruzamento ou no meio do trânsito. Quando vocês precisam de nós, no entanto, o primeiro comentário quando chegamos será 'levaram muito tempo para cá chegar'.


 Desejava que pudesses ler os meus pensamentos enquanto ajudo a retirar os restos de uma jovem do seu veiculo contorcido, 'e se fosse a minha irmã, a minha namorada ou alguma amiga? Qual será a reacção dos seus pais quando abrirem a porta e verem policias?'


 Desejava que pudesses saber como é entrar em casa, cumprimentar a família não tendo coragem para lhes dizer que quase não voltei da última chamada.


 Desejava que pudesses sentir os meus sentimentos quando as pessoas verbalmente, e às vezes fisicamente, nos maltratam ou subestimam o que fazemos, ou quando têm a atitude 'isto nunca me aconteceria'.


 Desejava que pudesses perceber a instabilidade mental, emocional e física de refeições perdidas, sonos perdidos e a falta de actividades sociais associadas todas as tragédias que os meus olhos já viram.


Desejava que pudesses saber a irmandade que existe e a satisfação de ajudar a salvar uma vida, a preservar as coisas de alguém, a estar 'lá' nos tempos de crise ou a criar ordem quando existe um caos total.


 Desejava que pudesses compreender como nos sentimos quando temos uma criança a puxar- nos o braço e a perguntar 'a minha mãe está bem?' sem sequer conseguir olhar nos seus olhos sem deixar cair umas lágrimas e sem saber o que responder. Ou ter de segurar um amigo de longa data enquanto o seu companheiro vai na ambulância a receber respiração boca a boca. Sabendo de antemão que ele não trazia o cinto de segurança posto. Sensações que me ficaram muito familiares...


 A menos que tenhas vivido este tipo de vida, nunca conseguirás entender verdadeiramente ou apreciar QUEM EU SOU, O QUE NÓS SOMOS OU O QUE O NOSSO TRABALHO SIGNIFICA REALMENTE PARA NÓS ... Desejava que pudesses …






Fonte:Boletim informativo O BOMBAS dos B. V. de Aguda

Nenhum comentário:

Postar um comentário